Os sertões do Brasil Colônia vinham sendo ousadamente desbravados pelas bandeiras, desde o ano de 1662, com a exploração fácil dos depósitos de ouro e aluviões diamantíferos.
Não se permitia a instalação de indústrias a não ser a de manufaturas de tecidos grosseiros para as vestes dos escravos. Havia mesmo uma lei que proibia fabricar ferro.
A difícil situação preocupava os governantes de então. Sentiram estes a necessidade de serem substituídos os rotineiros, empíricos e rudimentares serviços por outros que viessem aumentar a produção das minas e também da premência de se iniciarem as lavras de jazidas subterrâneas.
O germe da criação de ensino referente à mineralogia e à metalurgia veio com o Alvará de 13 de maio de 1803, promulgado por D. João VI, então Príncipe Regente, em que, além de providencias relativas à mineração e à moedagem em Minas Gerais, recomendava “o emprego de meios para o estabelecimento de escolas mineralógicas e metalúrgicas semelhantes às de Freyberg e Chemnitz, na Alemanha”. Essas escolas ficaram, todavia, somente no papel.
Só depois da Independência, vinte anos passados, a 19 de agosto de 1823, José Bonifácio Ribeiro de Andrada, membro da Comissão de Instrução Pública da Assembleia Constituinte, apresentou um projeto de se fundarem universidades em São Paulo e Olinda. Foi a este projeto aditada uma emenda de Antônio Gonçalves Gomide no sentido de se criar uma terceira universidade em Minas gerais, na Vila Nova da Rainha do Caeté. Vieram, em seguida, mais duas novas emendas ao referido projeto: uma de Antonio Luiz Pereira da Cunha, estabelecendo um Colégio de Ciências Naturais em Mariana, Minas Gerais, e uma outra de Lúcio Soares Teixeira de Gouvêa de “no caso de ser criada uma universidade no sul do País, que fosse na cidade de Mariana”. Antônio Gonçalves Gomide apresentou, então, um substitutivo ao referido projeto criando três Universidades: uma no Sul, outra no centro e uma terceira no norte do País. Passando a matéria em pauta à terceira discussão na Assembleia Constituinte, Manoel Ferreira da Câmara Bittencourt e Sá, o Intendente Câmara, apresentou, em 18 de outubro de 1823, uma emenda ao substitutivo de Antônio Gonçalves Gomide para que estabelecesse em Minas Gerais “uma Academia Montanística, Docimástica e mais doutrinas da Metalurgia e que ficasse no Rio de Janeiro a universidade do centro do País”. Segundo José Pedro Xavier da Veiga, Turma 1924, pode a emenda do Intendente Câmara ser considerada como o fundamento e a ideia inicial da ESCOLA DE MINAS.
Entre as manifestações ocorridas na época, cita-se a de Roque Scuch, cidadão estrangeiro muito amigo do Brasil, de haver deixado em testamento datado de 18 de janeiro de 1829 que se “aplicasse a quarta parte da terça de suas rendas para subvencionar um estudante que fosse ao estrangeiro aperfeiçoar-se em conhecimentos de mineralogia e a outra quarta parte da mesma terça destinar-se-ia à ajuda de uma Academia de Mineralogia , logo que se verificasse na Provincia...
Em 10 de dezembro de 1830, em sessão do Conselho Geral da Província de Minas Gerais, o Cônego Antônio José Ribeiro Bhering propôs a “criação, no lugar em que o Conselho julgasse mais conveniente, de um curso com as cadeiras de mineralogia, agricultura e desenho”. Foi este projeto aprovado com a emenda apresentada por Bernardo Pereira de Vasconcelos, “mandando substituir a cadeira de desenho pela de metalurgia”.
A 3 de outubro de 1832, o poder executivo, representado pelos 3 regentes, sancionou, em nome do Imperador D. Pedro II e referendada pelo Ministro do Império Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, a lei votada pela Assembleia Legislativa criando um curso de exploração das minas, da metalurgia e da docimasia, Instituto que 44 anos depois vem a ser instalado com a denominação de ESCOLA DE MINAS.
Mais tarde, em 1835, por ocasião da primeira Assembleia Provincial, Limpo de Abreu, Presidente de Minas Gerais, fez ver “a necessidade de ser instalado o curso de estudos mineralógicos criado em 1832, isto é, havia três anos, lembrando, ao mesmo tempo, para sua sede o Palácio dos Governadores em Cachoeira do Campo, próxima a Ouro Preto.
O primeiro Barão de Camargos e o Brigadeiro Antônio Luiz de Magalhães Mosqueira, em escritos e em discursos, muito trabalharam pela execução do que dispunha a mencionada Lei de 3 de outubro de 1832.
Quarenta anos de esquecimento recaem sobre a Lei de 3 de outubro de 1832.
Sua Majestade o Imperador D. Pedro II, em suas frequentes viagens às principais cidades da Europa e da América do Norte, verificando a deficiência dos Institutos de ensino de sua pátria em uma dessas suas viagens a Paris (1871-1872), D. Pedro II, que era membro estrangeiro da Academia de Ciências de Paris, em convívio com alguns sábios franceses, pediu ao Prof. Auguste Daubreé, que publicasse uma: “NOTÍCIA SOBRE O MODO DE CHEGAR AO CONHECIMENTO MAIS COMPLETO DO SOLO DO BRASIL E DE DESENVOLVER A EXPLORAÇÃO DE SUAS RIQUESAS MINERAIS”.
Julgando que Auguste Daubreé acederia em vir ao Brasil, pelo menos por algum tempo, D.Pedro II fez-lhe um convite, por intermédio do Conselheiro e Ministro do Império João Alfredo Correia de Oliveira e endereçou-lhe uma carta pessoal, em 6 de julho de 1872.
Mas os encargos de Daubreé na França não lhe permitiam aceitar esse convite.
Já, entretanto, em 29 de dezembro de 1873, volta a escrever: “Uma das pessoas que poderiam convir encontra-se momentaneamente na Grécia onde faz Importantes observações”.
Trata-se de CLAUDE HENRI GORCEIX.
Alguns dias mais tarde, Gorceix era apresentado ao Visconde de Itajubá, Ministro Plenipotenciário do Brasil em França e, a 28 de março de 1874, assina contrato provisório a serviço do Governo Imperial no Rio de Janeiro para organizar o ensino da Mineralogia e da Geologia.
Embarca para o Brasil em 20 de junho de 1874, Daubreé já previa esta demora, dizendo: “Este jovem sábio deseja ter, pelo menos, 2 meses de folga a fim de organizar as coleções que colheu e publicar uma ou duas memórias.
O “jovem sábio” chega ao Rio de Janeiro em fins de julho de 1874. Por que “ jovem”? Porque ao chegar ao Brasil contava Gorceix apenas 31 anos e 9 meses de idade.
CLAUDE HENRI GORCEIX nasceu a 19 de outubro de 1842 em St. Denis des Murs.
Em 1863 ingressa na Escola Normal Superior de Paris, seção de Ciências, concluindo em 1866 o curso de Ciências Físicas e Matemática.
Em 1° de junho de 1869 é nomeado Professor do Curso de Ciências da Escola Francesa de Atenas.
O propósito de ser levado a efeito por Gorceix no Brasil era arrojado: prova-o a fundação da Escola Politécnica de São Paulo quando a de Ouro Preto já contava 22 anos de existência. A Escola Politécnica do Rio de Janeiro é anterior à de Ouro Preto, de 2 anos apenas.
Urgia decidir a localização da futura Escola.
Inicia uma serie de excursões, geológicas, indo ao Rio Grande do Sul, onde estudou as minas de ouro e cobre de lavras e Caçapava, sobre que redigiu 3 monografias.
Recebe em 17 de dezembro de 1874 um oficio do Conselho e Ministro de Estado dos Negócios do Império João Correa de Oliveira, dizendo:
“ Fica V. Mcê. Incumbido de ir à Província de Minas Gerais afim de examinar qual a localidade mais própria para que ali se estabeleça uma Escola de Minas.
A preocupação inicial de Gorceix no Brasil foi a instalação, no Rio de Janeiro, de um laboratório de Mineralogia e Geologia que funcionara até a instalação definitiva da Escola de Minas que iria fundar.
Terminadas suas monografias sobre o ouro e o cobre do Rio de Grande do Sul, inicia em fevereiro de 1875 sua viagem para Minas Gerais.
Em julho submete à Sua Majestade o Imperador D. Pedro II um “RELATÓRIO SOBRE A ORGANIZAÇÃO DE UMA ESCOLA DE MINAS NA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS.
Passando à escolha da cidade onde fundar a Escola de Minas: Ouro Preto, Barbacena, São João Del Rey, Sabará, Itabira do Mato Dentro e Diamantina. Eram as mais prováveis.
Gorceix não se demorou em optar por Ouro Preto. Não apenas por se tratar da Capital da Província, mas após considerações sobre as vantagens por ela apresentadas conclui: “Em muito pequena extensão de terreno pode-se acompanhar a série quase completa das rochas metamórficas que constituem grande parte do território brasileiro e todos os arredores da cidade se prestam a excursões mineralógicas proveitosas e interessantes”.
Submetidos à apreciação do Daubreé o Relatório e o Projeto de Regulamento, escreve o mesmo ao Imperador em 9 de junho de 1875: “Depois de ler atentamente esses documentos, não posso deixar de aprovar completamente as disposições propostas por Mr. Gorceix e as razões justificativas”.
Esses documentos enviados ao Ministério do Império, onde José Bento da Cunha Figueiredo semanas antes substituirá João Alfredo Correia de Oliveira, aquele Ministro os remete ao Diretor interino da Escola Politécnica do Rio de Janeiro.
Submetidos os planos e orçamentos do Prof.Gorceix e o parecer do Engenheiro Francisco Pereira Passos, este último datado de 9 de agosto de 1875, à apreciação da Congregação da Escola Politécnica, esta nomeou uma comissão de lentes que, por sua vez emitiu, em 27 do mesmo mês, parecer cujas conclusões foram encaminhadas ao Governo do Império.
Como a autorização dada ao Governo pela lei de 3 de outubro de 1832 sancionada já há 43 anos, tivesse se tornado insuficiente, no final da sessão legislativa de 1875, a Câmara dos Deputados e o Senado votaram novas medidas para possibilitar a execução do projeto.
“Lei n° 2.670 de 20 de outubro de 1875 FIXA A DESPESA E ORÇA A RECEITA GERAL DO IMPÉRIO PARA EXERCÍCIO DE 1876-1877 E DA OUTRAS PROVIDÊNCIAS”.
“DECRETO Nº 6.026 DE 6 DE NOVEMBRO DE 1875. Crea uma Escola de Minas na Província de Minas Gerais e dá-lhe Regulamento”.
D. Pedro Segundo, por Graça de Deus e Unânime Aclamação dos Povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.
Aos 12 de outubro de 1876 foi a ESCOLA DE MINAS solenemente instalada em Ouro Preto, então capital da Província de Minas Gerais, na casa da Rua das Mercês, atual Rua Pe. Rolim, nº167, onde funcionou o Educandário Santo Antônio até 2016.